quarta-feira, 2 de outubro de 2013

[Resenha] Madame Bovary - Gustave Flaubert

Buenas Gurizada,


Confesso, estava prorrogando a leitura deste livro a mais tempo do que gosto de lembrar, então o clube do livro resolveu escolher este, e cá estou, finalmente li, e não posso criticar em nada a escolha. O Autor fez por merecer a notoriedade que o livro possui.



Editora: Civilização Editora
Autor: Gustave Flaubert
ISBN: 9789722635929
Ano: 2012
Páginas: 344
Tradutor: Daniel Augusto Gonçalves

Sinopse: Emma, nascida no seio de uma família da pequena burguesia, foi criada no campo e aprendeu a ver a vida através da literatura sentimental. Bonita e requintada para os padrões provincianos, casa-se com Charles, um médico de província tão apaixonado pela esposa quanto entediante. Nem mesmo o nascimento da filha dá alegria ao casamento, a que Emma se sente presa. Revoltada com a sua vida, Emma perseguirá os seus sonhos, com consequências trágicas.


Da narrativa, temos uma história de personagens vivos, ambientado nos costumes burgueses, uma crítica deveras ilustrativa do realismo da época. Devo admitir que esperava um tratamento mais cru da realidade, talvez seja culpa de minhas últimas leituras, muitas distopias, acredito; quem sabe meu senso possa estar um pouco alvoroçado, enrustido das mazelas dos homens sob a alienação governamental...

O livro tem seu foco no jovem Carlos (Charles para algumas edições, por ocasião do tradutor), indeciso e até desinteressado sobre seu futuro, deixa-se moldar e mandar, sendo assim, sua mãe escolhe o que fará da vida, ou seja, faculdade. O curso que para toda temática burguesa, arrisco chamar de um clichê nos livros que retratam essa classe, a própria, Carlos foi cursar Medicina. Formou-se médico, como sua família queria, e esperava. Ao retornar pra casa, já "Doutor",  sua mãe engajou-se na missão de lhe arranjar uma esposa, um médico que almeja crescer e ficar conhecido não pode viver uma vida de solteirices, precisa casar-se, constituir família sólida.

E sua mãe arranja-lhe um casamento com uma Sra. viúva, de vida estável, por um tempo o casamento não foi para Carlos, nada senão mais um fato na vida. Não era apaixonado, vivia. Porém, questiona-se do que seria bom para si, quando conhece Emma, jovem, filha de um fazendeiro que medicou, a menina lhe agradava, os gestos, as palavras suaves, as conversas, mas era casado e sua esposa passou a desconfiar de tal caso, proibindo-o de fazer as visitas a tal fazenda, onde costumava ir para "desestressar" da vida atribulada. De pronto fez-lhe a vontade, mas em meio a esses fatos, Bovary mãe descobre que a esposa que arranjou ao filho, em verdade não possuía bens, apenas velhas quinquilharias que de nada adiantariam, exceto a casa. Pouco tempo depois da descoberta, sua esposa morre. Desgosto, talvez, pela mentira, ela deveras amara o marido, disso quase não tenho dúvidas...

Viúvo e desimpedido do casamento, Carlos decide pedir Emma em casamento. Ela, por seu lado, vê a oportunidade de sair da fazenda a viver em fim, na cidade. Mas, quanto do desejo de mudança de ares pode ser amor? E quanto do amor pode ser ilusão sonhadora?

Indubitavelmente, Emma que, crescendo e sendo educada em um convento, afastada das vicissitudes da vida nas grandes cidades, criou sua própria ilusão a cerca do amor, do casamento. Não fosse por menos, ao passar o sentimento de novidade e possibilidades, o casamento passa a ser-lhe como tijolos mal assentados à parede, desmoronando um a um.
Tal foi a visão de realidade, Carlos achava-se feliz, possuía em casa uma mulher que lhe agradava, esperava-lhe com o jantar pronto, prezava por suas vestes e etc. Para ele, já bastava para a felicidade descabida, para Emma, em suas próprias palavras, transcrevo:
Um homem não deveria, ao contrário, primar em múltiplas atividades, saber iniciar uma mulher naos embates da paixão, nos requintes da vida, enfim, em todos os mistérios? (M.Bovary, pág. 36) 
A desilusão é sempre pior a quem se ilude, não? Emma sonhou o casamento de livros, mas casou-se, e isso foi na vida real.
Depois de haverem mudado para outra cidade, Emma parece estar descobrindo o que perdeu casando-se cedo, talvez se tivesse esperado, conhecido do mundo, não os vícios, mas a realidade. Amar e não poder amar, este é o dilema. Trair para ser feliz ou não trair, e continuar infeliz.

Flaubert, um autor revolucionário, priorizando o olhar feminino, não o olhar puritano extremista, dissimulado a ponto do idealista/cego/sonhador idolatrar a mulher e representar um ser medíocre, pois não entende a própria mulher que escolheu para casar...

Confesso, no início, minha aversão a Emma era gigantesca, lendo um pouco mais, aumentou.
Considerando que ela culpava a sua má vida pelo casamento infeliz que tinha, pelo marido, homem sem ambição, arrisco dizer que também possuía pouca vontade própria, acomodado, conformado com a vida, isso me irrita, mas não desmereço personagens por isso. Desmereço personagens pela culpa desenfreada posta nos outros, e não assumindo a sua própria, Emma fazia isso, culpava o mundo e o que não podia possuir do mundo.
Com o passar da narrativa, no entanto, vi uma Emma que fazia por si para sair infeliz vida... Não dos melhores meios, mas um ser estagnado é um ser que não pretende mudar.

Um clássico, e nos clássicos, não posso negar que amo a linguagem rebuscada, o cuidado nas palavras, a descrição planejada, requintada e serena.
Indico a leitura, lendo e conhecendo novas personalidades nesse imenso mundo de autores.

Um comentário:

  1. Quanta infelicidade, se bem que ela é boa para refletir.

    www.umarcoirisdeletras.blogspot.com.br

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