terça-feira, 17 de abril de 2012

[Resenha] Olhai os Lírios do campo - Erico Verissimo




Editora: Companhia das Letras
Autor: Erico Verissimo
ISBN: 8535906096
Número de páginas: 288



Sinopse: Primeiro best-seller de Erico Verissimo, Olhai os lírios do campo representou uma guinada na carreira literária do escritor. Várias edições se esgotaram em poucos meses. Segundo Erico, o sucesso foi tão grande que "teve a força de arrastar consigo os romances" que publicara antes em modestas tiragens.
Eugênio Pontes , moço de origem humilde, a custo se forma médico e, graças a um casamento por interesse, ingressa na elite da sociedade. Nesse percurso, porém, é obrigado a viver as costas para a família, deixar de lado antigos ideais humanitários e abandonar a mulher que realmente ama. Sensível, comovente, Olhai os Lírios do Campo é um convite à reflexão sobre os valores autênticos da vida.


Um livro tanto quanto antigo, escrito em 1938, mas de uma veracidade e atualidade indiscutíveis. Escrito em 1º pessoa, mas a cronologia mescla um passado com o presente em certas partes da narrativa.

Um livro psicológico. Incertezas da Vida. O que vem antes, o querer ou gostar?
Revela o conflito interior, o constante diálogo consigo mesmo, o que se quer, o que se tem e o que realmente irá buscar.
De conflitos e dúvidas era feito o pequeno Eugênio, que desde jovem já viviam em turbilhão interno. Não aceitava a pobreza em que vivia, a aspereza de sua roupa rasgada, da casa sem luxo, do pai com olhar resignado e a mãe de fé inabalável. Eugênio sentia na alma a dor de ser pobre, a humilhação que passara quando ainda novo, de calças rasgadas e todos a rir-lhe da cara. Nunca mais há de esquecer-se do dia em que todos riram de sua situação, inclusive seu irmão.
Seus pais, D.Alzira e seu Ângelo trabalhavam duro para os dois filhos estudarem, Ernesto era largado e não ligava muito aos estudos, fumava e desde jovem se metia em bares, Eugênio, a promessa,o orgulho da família, pensava ele de si, este iria estudar, seria doutor. 
Sempre observava seus colegas, de vida boa, de status e certa dose de riqueza, boas roupas, gozavam de uma imagem, de um Nome. Desde o dia de sua grande humilhação teve a certeza que seria alguém, sairia daquela pobreza asquerosa e sofrida. Teria um nome, teria luxo e boa vida.

Na faculdade, o ambiente era-lhe agradável mas perturbador, sentia-se ao mesmo tempo em ma outra atmosfera, mas sempre, hora a outra, era inferior a todos aqueles ricos, era inferior ao amigo Alcebíades,que pergunta-se, porque um jovem rico como era este Alcebíades, andava junto com um pobre como ele? Queria demonstrar caridade? Solidariedade de um rico ajudando um zé ninguém? (Jamais Eugênio se achou digno de atenção, não sentia dentro de si, algo valoroso a oferecer,que não a sua 'inferioridade').
Não sabia, mas formaria-se Doutor, e talharia seu nome entre os grandes, teria seu lugar de respeito, enfim não sentiria-se inferior aos outros.
Era a noite de sua colação de grau, estava só novamente, o diploma enrolado em canudo, segurava-o na mão, pensava... O que lhe esperava o futuro? O que seria agora? Enfim iria ao patamar daquela estirpe burguesa que tanto sonhava?
Nesta mesma noite, também sem saber de seu futuro, mas ainda assim, em profunda paz de dúvidas, estava Olívia. Fora colega de Eugênio na faculdade de Medicina, a única mulher na turma, vítima muitas vezes de piadas preconceituosas. Eugênio via-se inclinado a sempre protegê-la, pois sentia nela o mesmo que nele, a vontade de sair da situação ruim em que se encontrava, mas contrário a ele, ela estava tranquila...
Por muito tempo foram colegas de trabalho, amantes, companheiros, mas ambos não exigiam mais do que isso, era um espírito de camaradagem, aos olhos de Eugênio, eram bons um para o outro e bastava.
Estão ela viaja, trabalhar fora num hospital duma colônia, no interior. Ele em meio tempo conhece uma rica Herdeira de Cintra, grande empresário e dono de indústrias. Não percebe o que, não vê nada que possuam em comum, mas no entanto ela aceita seu pedido de noivado e logo, casamento.
Antes de casar-se, porém, vai ver com Olívia, sua confidente e amiga, o que acha? O que lhe dirá? Nunca pensara antes, mas será Olívia apaixonada por ele? Nem sequer uma indicativa, nada. Naquela noite de confidência ela não lhe confiou um único motivo, dormiram juntos, mas ela não manifestara qualquer oposição. E ele, em seu sonho egoísta queria apenas ser ALGUÉM. Trilharia o que fosse para subir ao luxo e boa vida, e cá estava sua noiva, casado com Eunice, o caminho livre, a passagem mais rápida, breve e bem vista para subir o nome.
Casado, Olivia viaja novamente, volta ao hospital e ele segue sua vida imperfeita e errônea de suas mazelas internas, pensando quando enfim começaria a viver...

Opinião: Nunca me dei ao luxo de dizer não a Clássicos, sempre os amei, e por indicação da Sheila procurei esse livro, finalmente a caça termina, encontro, e ler ele foi ótimo! ^^
É um tanto perturbador as infindáveis perguntas de Eugênio, admito, muitas vezes nos vemos nas mesmas eloquências e logo mais além, perguntamos como ele pode não compreender-se a si mesmo de tal maneira a sempre errar suas decisões. 


Parte preferida: Quando o intelectual Acélio Castanho fervorosamente discute arte clássica com um pintor moderno. E. Verissimo defendeu ambas as partes magnificamente! *-*
Sei que o post ficará tremendamente longo, mas faço questão de colocar parte do trecho...

"...Nunca andamos tão baixo na matéria de livros e arte. Nos últimos tempos tem surgido uma literatura sórdida que prolifera como míldio e que vai mofando a consciência da nossa mocidade.
...Não há mais respeito a gramática, aos métodos tradicionais do bom romance psicológico. Os escritores são fotógrafos, reles fotógrafos que só sabem focar suas máquinas em canas imundas de miséria, e imoralidades." 
Magnífico, não? Fervoroso e constante a discussão. É uma linda leitura, e ótima crítica a sociedade, em termos diversos, não a este que citei, pois que arte, é arte, independente. Arte quer falar algo, e nunca iremos dizer ao pintor como se fazer sua arte. ^^


2 comentários:

  1. Ah os clássicos...tem como não amá-los??
    Verissimo, Pessoa, Clarice...e outros tantos q povoam nossas almas. Pq pra mim, eles escreviam às almas das pessoas, não às pessoas de fato.
    Essa semana fiquei muito feliz, pq ganhei 2 livrinhos de Fernando Pessoa. ainda não os li, mas vou chegar lá, isso eu sei.
    Que venham novos tempos, novos escritores..mas que a memória do nosso povo nunca seja esquecida. O que eu acho q falta um pouco, é incentivo nesses clássicos na parte da escola. Minha filha chega com cada livro aqui..que pôxa, nada a ver!!
    Bjs bjs..(Angela Gabriel)

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  2. É clássico, tenho vontade de ler. rs
    Resenha bem filosófica. Amei!

    Muito bela a citação.

    Vai pra lista de desejos!! Gosto de livros que nos faz refletir.

    Bjs

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